28 de abril de 2012

São Jorge

Acrílica sobre tela 100 x 70 cm
Acervo particular

Essa pintura consegue expressar a  força que a temática possui, através do cubismo, usando traços de maneira limpa e cores que apesar de aparentemente puras, são na verdade, várias gamas cromáticas para conseguir tal efeito, numa espécie de colorido neutro, onde os amarelos, misturados as sombras, são equilibrados com os tons de branco, os verdes do lagarto-dragão com suas texturas construindo um degradê.  Que também é resultado de um desdobramento estético de metamorfose desta figura que identifica as (formas) picassianas, num movimento de fúria e dor. Esta obra pode lembrar os mosaicos romanos, num diálogo entre a herança greco-romana, através da escultura e pintura do mundo antigo. Atravessando o périodo medieval, onde a figura de Jorge é exaltada, algo que vinha contribuir com a imagem de mártir cristão que Igreja propunha em seu discurso. Era, sobretudo, uma forma de dogmatização, que sendo incorporada as culturas subjugadas na américa latina, no caso, do Brasil, se endossa um sincretismo religioso, entre o universo afro-descendente e o catolicismo.
Além disso, a força mítica que o personagem esala nas suas diversas manifestações por todo o mundo, torna ainda mais problematizador esta arte, devido as lendas suscitadas pela história do cavaleiro Jorge, um soldado romano nascido em Capadócia que teria vivido por volta de 275 dc. que se rebelou contra o império que ajudou a construir, questionando as atrocidades exercidas contra os primeiros cristãos.
Portanto, o interesse do artista Assis Costa em representar com seus matizes culturais, estes icones de Francisco de Assis, São Jorge e Dom Quixote, é problematizar o seu próprio trabalho, tecendo dialogos entre estas figuras, relacionado neste sentido a uma mística e lúdica visão de mundo, com os sentimentos de heroísmo, coragem e esperança que permeiam tais histórias.

Ilka Pimenta
19 de maio de 2012.

24 de abril de 2012

Ceia entre dois Rios

Acrílica sobre tela 60 x 200 cm
Acervo particular

Esta pintura de título "Ceia entre dois Rios" nos remete a uma paisagem fictícia baseada numa paisagem real, de lugares distintos, porém unidos hermeticamente por uma mesa, contudo sabemos bem que esta já tem em si, toda uma simbologia representando uma produção humana, construida subjetivamente por sentimentos familiares, ancestrais.. pois a concepção de união presente na mesa está desde nossos primórdios, ao se reunirem ao redor de uma fogueira para se aquecerem, comerem e beberem o trabalho do dia, para depois representar a civilização, com todas as minúcias culturais de todas as épocas e lugares.  '
Esta obra foi uma encomenda em que os clientes e amigos de Assis Costa, solicitaram-lhe uma temática que envolvesse a cultura do Nordeste (potiguar) e a do Rio Grande do Sul, e que tivesse uma conotação de sentimentos, de família e amizade. O artista desde 2002 viaja a trabalho para a Serra gaúcha como artista plástico, realizando eventos, pintando e esculpindo, com isso ao longo desse tempo estreitou laços de afetividade com o lugar e com algumas pessoas que passaram a fazer parte de sua vida.
Então, esses códigos culturais expressos na obra se imbricam ao sentimento de nostalgia que lhe é soberano.
A visão é bem clara, é um passeio pela paisagem do sertão e a paisagem gaúcha de Nova Petrópolis, especificamente. O Rio que corre entre esses universos é a fluidez da vida. A ausência de pessoas, que chega a incomodar, evidencia a saudade, essa é a idéia central do quadro, segundo o artista, contudo os elementos que compõe a cena representam intimamente a individualidade daqueles que a contemplam de fora para dentro.

Ilka Pimenta. 28/04/2012.