AST, 70 x 130 cm , Acervo particular
A cidade em festa, assim mostra o artista uma paisagem multicolorida de pessoas, animais, edificações e a natureza, que baila em montanhas movediças, pedras que jorram leite, águas trigais de campos áridos. O símbolos significam a paisagem, integram seus sentidos conjugados ao sentimento de pertencer a um lugar, cidade de Acarí, região do seridó, interior do Rio Grande do Norte. Uma lista de dados identificativos começa a dizer a obra, mas será que tudo isso nos diz sobre a imagem? Uma pintura, pensada, confeccionada desde a produção da grade, a preparação do tecido que se torna o espaço da arte, pronta para aquele momento em que o artista sente-se diante do "problema": criação. Daí, o tempo, a energia, as condições várias da vida do artista e tudo que o circunda permitirão a construção de uma obra que terá título, data e dimensões. Além de todas essas nomenclaturas, definições importantes ou vazias, terá aquele sentimento de nascimento, de obra que sem dúvida, não pode ser isolada do seu contexto, nem das dimensões históricas que acompanham qualquer produção humana, mas é vista por mim como uma ideia imbuída de subjetividade e complexidades daquilo que move a criação. Neste sentido, o açude gargalheiras que abastecia até agora o ano de 2015, Currais Novos e Acarí, assume no quadro, um sentido de vida, de saudade, de preenchimento, pois a riqueza absoluta é a água. Por outro lado, a procissão da padroeira Nossa senhora Daguia, reúne os anônimos, a multidão, festejos de tradição cultivadas ainda hoje demonstrando a força do catolicismo na história dessa região, nascida da conquista portuguesa nesse espaço, do adentramento dos sertões, expulsando os indígenas e impondo a fé estrangeira nessas paragens no século XVIII. Signos de poder, instituições como o Museu do homem sertanejo, prédio tombado pelo IPHAN, patrimônio material desse município. E a Igreja do Rosário, lindíssima! resquícios da arte barroca, e assim dos diversos quadros sociais e culturais representados nessa obra de Assis Costa, que trata a paisagem, não apenas como ela é, uma cópia, uma fotografia, mas investiga um olhar multidirecionado como colagens justapostas, mirando o belo, aquilo que há de melhor do espaço que vive, pinta e o significa pictoricamente.
Ilka Pimenta, 01 de outubro de 2015.